Texto de Eliana Gomes*
Imagens: Google
Neste dia 28 de maio, Dia Internacional da Saúde da Mulher, quero falar para as mulheres que lutam diariamente para garantir os seus direitos nas mais diversas esferas da sociedade, em uma cidade cheia de contrastes e construída sem o olhar para as especificidades que a condição feminina requer.
Na história das políticas públicas de saúde no Brasil e no mundo, a atenção à saúde da mulher tem sido reduzida, em grande parte, aos parâmetros da atenção materno-infanti e, mesmo assim, frequentemente deixada em segundo plano.
Esta abordagem tradicional já não se adequa – se é que já se adequou - a realidade vivida hoje pelas mulheres, e não dá conta de resolver a questão da mortalidade materna. Pois nossas mulheres necessitam de políticas e serviços que as considerem como sujeitos ativos no cuidado da saúde em todas as etapas de suas vidas. Temas como saúde mental, sexualidade, aborto, adolescência, velhice, trabalho e saúde, saúde e cidadania, são essenciais e merecem destaque.
Esse conceito progressista de saúde da mulher faz parte das reivindicações dos diversos movimentos femininos e feministas, principalmente através das conferências de saúde e de direitos da mulher realizadas ultimamente em todo o Brasil. Este processo analisa a condição feminina atual, a atuação da mulher na sociedade, sua importância para o mercado de trabalho e faz uma reflexão histórica dos estereótipos culturais aos quais as mulheres são submetidas. Para os movimentos de mulheres, a saúde precisa ser vista dentro de um contexto social, econômico e cultural que considere a condição feminina.
Em 2009, criamos a Frente Parlamentar dos Direitos da Mulher, da Criança e do Adolescente, tendo como uma de suas contribuições a busca por garantir os direitos à saúde da mulher de uma forma ampla. Aliada aos movimentos de mulheres, a Frente desenvolveu ações como a campanha Mamografia agora é Lei, informando às mulheres sobre o direito e a importância do exame; reuniões com o poder público para apresentar as reivindicações das mulheres, o que resultou na diminuição da fila de espera de mamografia e ultrasom mamária e a ampliação do número de mamógrafos disponíveis para os exames na rede de saúde pública de Fortaleza.
Recentemente, nosso mandato realizou vários encontros com mulheres em quinze bairros de nossa cidade. Por meio da metodologia de “roda de conversa”, as mulheres apontaram que, apesar das lutas e dos avanços, ainda falta muito para vermos o direito à saúde da mulher garantido plenamente. Os principais problemas estão na atenção básica: faltam postos de saúde, hospitais, médicos, remédios e ainda existem filas de espera para exames e cirurgias.
São poucas e ainda falhas as campanhas de prevenção às principais doenças que acometem as mulheres. Um exemplo disso é que atualmente o Governo Federal fez investimentos no sentido de aumentar o número de mamografias, para evitar o que mais mata as mulheres, o câncer de mama, só que é preciso considerar a ociosidade de aparelhos no planejamento da oferta desse serviço.
Nos encontros com mulheres, elas enxergaram além do aspecto materno reprodutivo e cobraram a implantação de ações como: o direito ao lazer, a cultura, ao esporte, a redução da jornada de trabalho para cuidarem mais da sua saúde, o direito a informação e a prevenção. Segundo elas, o elevado nível de estresse a que são submetidas diariamente com a dupla jornada de trabalho e a responsabilidade de cuidar de toda a família tem ocasionado sérios problemas de hipertensão, diabetes, depressão, entre outras doenças.
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Ainda tratando da saúde da mulher, outra situação que preocupa, é que, de acordo com a Lei Federal 11.108 de 2005, as grávidas têm direito à presença de um acompanhante de sua escolha antes, durante e no pós-parto nas maternidades do SUS e da rede conveniada ao sistema. Infelizmente, parece que não é bem isso que vem acontecendo. A lei vem sendo descumprida em alguns hospitais públicos do nosso Estado. As unidades de saúde alegam que o problema é a falta de estrutura física para receber os acompanhantes. O que deveria ser um momento mágico pode se tornar uma experiência desagradável pelo simples fato de a mãe não ter direito à presença de um acompanhante na hora do parto.
Um dos maiores entraves para que a lei do acompanhante seja cumprida é a desinformação. muitas mulheres não sabem que a legislação permite a entrada de acompanhante escolhido por elas na sala de parto. Esse direito, precisa ser melhor divulgado.
Eis aqui o grande desafio: garantir a saúde da mulher de forma integral e em todos os seus ciclos de vida. Esperamos que a construção e o funcionamento do Hospital da Mulher possam contribuir para colocar essa questão em outro patamar. Efetivar as políticas de saúde que considerem a condição feminina significa melhorar os indicadores atuais e contribuir para que as mulheres vivam mais felizes em nossa cidade.
*Eliana Gomes (PCdoB) vereadora de Fortaleza