domingo, 11 de dezembro de 2011

'Rainha das Américas' retorna do Parapan com ouro no peito

Jane Karla Rodrigues já pode matar a saudade dos filhos Lucas, 12, e Letícia, 9. Foram três semanas longe de casa, mas a ausência foi recompensada com mais uma brilhante conquista na vida vencedora. O simples fato de se tratar de um esporte paraolímpico já se refere a um caso de superação, mas a história de Jane vai muito além. A atleta goiana retornou do México após ajudar o Brasil e ser o líder no quadro de medalhas dos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara.
Aos 36 anos, a jogadora conquistou a medalha de ouro no tênis de mesa, na classe 8. Jane Karla, que já tinha conquistado duas medalhas de ouro no Parapan do Rio, em 2007, teve poliomielite aos três anos de idade. A doença prejudicou os movimentos dos membros inferiores e superiores de Jane, mas nem por isso o sonho de ser atleta foi deixado de lado.
jane karla volta a goiânia após ouro no parapan (Foto: Fernando Vasconcelos/GLOBOESPORTE.COM)Jane Karla retorna vitoriosa do Parapan de Guadalajara, no México
(Foto: Fernando Vasconcelos/GLOBOESPORTE.COM)
- Eu me lembro que na escola eu tinha vontade de praticar esporte, porém, não podia. Notava as outras crianças brincando, mas nunca desisti. Com muito esforço, principalmente de minha mãe, eu consegui recuperar os movimentos. Então um dia eu fui convidada pela Associação dos Deficientes Físicos do Estado de Goiás (ADFEGO) para praticar esportes. Joguei basquete, vôlei para sentados, e me apaixonei pelo tênis de mesa logo na primeira raquetada – lembra Jane Karla.
A superação não seria possível sem o esforço da mãe, Maria Helena, que inclusive decidiu não ter mais filhos para se dedicar apenas à recuperação da futura campeã.
- Minha mãe fez de tudo. Até mesmo aprendeu a fazer fisioterapia, porque não tinha condições de me levar para o tratamento. Mas ela comprava pequenos sacos de areia para que eu pudesse fazer força e melhorar os movimentos. Também me fazia massagens para estimular meus músculos. Lembro perfeitamente de tudo – conta a campeã parapan-americana.
Luta contra o câncer
Ao completar sete anos de carreira no meio do ano passado e de já ter sido reconhecida por ter superado várias batalhas na vida, Jane Karla recebeu a notícia de que teria que lutar contra seu adversário mais difícil: o câncer de mama. Ao sentir um pequeno incômodo no seio, a goiana decidiu fazer os exames de prevenção contra o câncer, pois a mãe, Dona Maria Helena, já lutava contra a doença.
- Eu não me sentia bem e decidi procurar vários médicos. O primeiro, inclusive, chegou a dizer que o problema era a falta de hormônio. Imagine se eu tivesse tomado hormônio? Meu quadro seria bem mais grave hoje em dia. Mas não desisti de fazer vários exames, até que descobri que estava com câncer de mama.
Jane Karla descobriu a doença em tempo hábil para começar e finalizar com sucesso o tratamento. A atleta, que já estava focada nas Paraolimpíadas de Londres (2012), passou por duas cirurgias para a retirada do tumor e, em seguida, iniciou as sessões de quimioterapia e radioterapia. Entretanto, nem mesmo o tratamento impediu o prosseguimento da carreira vitoriosa.
jane karla, mesatenista paraolímpica goiana (Foto: Cleber Mendes/Fotocom.net/CPB)Jane Karla foi a porta-bandeira do Brasil no encerramento dos Jogos Parapan-Americanos
(Foto: Cleber Mendes/Fotocom.net/CPB)
- Foi uma loucura. Eu quis jogar entre duas sessões de quimioterapia porque era um torneio importante e eu me preparava para o Mundial. Graças Deus deu tudo certo – diz Jane.
Curada do câncer de mama, a atleta faz um alerta a todas as mulheres.
- Muitas mulheres se assustam com a doença e têm medo de fazer o exame de prevenção com medo de que algum problema grave seja constatado. Esse é o grande risco. Muitas mulheres perdem a vida por causa disso. Mas se a prevenção for feita, é possível fazer o tratamento com eficácia – alerta.
Liberada pelos médicos em abril, a mesatenista voltou aos treinamentos e passou por uma rotina intensa de trabalho. A conquista da medalha de ouro em Guadalajara foi reconhecida pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro, que convidou Jane para ser a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de encerramento do Parapan.
Jane Karla ganhou também o troféu de Melhor Atleta das Américas, dado pela Confederação Internacional de Tênis de Mesa. A conquista rendeu à jogadora o título de ‘Rainha das Américas’, dado carinhosamente pelos membros da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa. Nesta quinta-feira, Jane e todos os medalhistas brasileiros nos Jogos Parapan-Americanos serão recepcionados pela presidente Dilma Rouseff, em Brasília.
Londres 2012
jane karla e joachim gögel voltam a goiânia  (Foto: Fernando Vasconcelos/GLOBOESPORTE.COM)Jane Karla e marido Joachim Gögel mostram
medalha de ouro conquistada em Guadalajara
(Fernando Vasconcelos/GLOBOESPORTE.COM)
- Nós sempre temos objetivos e sonhos e temos que acreditar neles. Meu sonho é conquistar uma medalha olímpica no ano que vem - afirma Jane Karla.
Em no máximo dez dias, o ‘descanso’ da atleta será interrompido por mais uma dura jornada de treinamentos. A mesatenista goiana vai começar a preparação para os Jogos Paraolímpicos de Londres, no ano que vem. Sem patrocínio fixo, a jogadora e o treinador precisam de apoio para disputar as competições mais importantes de preparação para os jogos.
A vaga em Londres foi garantida com o título pan-americano. O treinador, Joachim Gögel, de 38 anos, certamente já traça os planos para a próxima temporada. Sintonia a dupla tem de sobra. Gögel é alemão e se mudou para o Brasil por causa de uma pessoa especial: a esposa Jane Karla.
Os dois se conheceram na Alemanha, quando o técnico deu aulas para a seleção brasileira antes das Paraolimpíadas de Pequim, em 2008. Quando Jane retornou ao Brasil, manteve contato com Joachim Gögel, mesmo contra todas as adversidades.
- Nós conversávamos pela internet, mas eu tinha que usar o tradutor, já que não entendia nem alemão e nem inglês. Ele se esforçou muito para aprender o português. Então nós começamos a namorar e nos casamos há 2 anos – conta Jane Karla.
A experiência do ‘técnico-marido’, que trabalha no tênis de mesa há 21 anos, é fundamental para o sucesso de Jane. Mas, quando a atleta elogiava seu treinador, o diálogo foi imediatamente interrompido.
- A programação pode até ser boa, mas se a atleta não for, não adianta nada (risos) – disse Joachim Gögel.
Criterioso, o treinador anota todos os passos da aluna e alterna a programação entre treinos técnicos e físicos. Em Pequim (2008), Jane Karla ficou na quinta colocação. A principal ameaça no momento atende pelo nome de Thu Kamkasomphu, uma francesa que não perde há três anos. Mas Joachim Gögel está confiante em um bom resultado nas Paraolimpíadas de Londres.
- Ela (Jane Karla) já conseguiu vencer uma etapa do Circuito Mundial de Tênis de Mesa, em setembro, na República Tcheca, o que mostra que está em alto nível. Vamos trabalhar forte para conquistar um grande resultado no ano que vem – afirma Joachim Gögel.
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